“Adorê, adorê, saravá, saravê”, canta a multidão num batuque umbandista-carnavalesco pelos paralelepípedos da Esplanada Ferroviária, em direção ao palco principal do Festival Cantão Cultural, selando um encontro histórico das escolas de samba e blocos de Campo Grande. O carnaval foi inserido nesta segunda edição do Campão e motivou carnavalescos e foliões, que tiraram a fantasia do armário e se entregaram ao samba – um carnaval fora de época!
A população desceu para o complexo ferroviário com a ideia fixa na cabeça: matar a saudade da folia, que não rolou nos dois últimos anos devido à pandemia do coronavírus – na Capital, apenas as escolas de samba desfilaram este ano. A alegria de sair na rua com a família ou amigos e dar seus rebolados sem protocolos sanitários animou o campo-grandense. A parada carnavalesca do Campão foi o grito, o abre-alas para 2023. Adorê, adorê, sarava, saravê…
“Esse evento está sendo muito importante para o nosso carnaval e para a gente matar um pouco da saudade”, celebra Silvana Valu,50, organizadora do Bloco Cordão Valu, fundado há 16 anos. “O governo está de parabéns, é a melhor maneira de proporcionar a alegria do povo e também a cultura e as manifestações populares. O aniversário do Estado não pode ser comemorado com tristeza”, diz a cantora e sambista Marta Cel, no meio do fervo.
Espaço democrático
A inserção do carnaval na programação do Campão tem muito a ver com a proposta do festival, afirma Eduardo Romero, secretário estadual de Cidadania e Cultura. “É uma das manifestações mais antigas e um espaço muito democrático, onde se reúnem todas as tendências culturais e de gêneros. Assim também é o Campão que queremos, e hoje, além de proporcionar toda essa alegria, estamos dando o aquecimento para o carnaval de 2023”, disse.
A concentração das escolas de samba e dos blocos estava prevista para às 18h, mas desde muito cedo os foliões foram tomando conta dos quarteirões de paralelepípedos da Calógeras. Ritmos e cantos sambistas entoam do palco e das caixas de som das barracas de alimentação, dando o tom da festa. Logo chegaram os ritmistas e passistas da Vila Carvalho com sua comunidade. É a escola de samba mais antiga da cidade: comemora 53 anos, no dia 15.
“Tudo que fizerem em prol do nosso carnaval é bem-vindo, impulsiona, movimenta, tirar o carnaval do esquecimento”, observa José Carlos de Carvalho, 79, presidente vitalício da escola campeã 22 vezes. “Essa iniciativa do Governo do Estado de lembrar de nós e inserir o carnaval no festival é muito bom, motiva todas as comunidades, é nossa tradição. A gente está vindo de uma pandemia e todo apoio é muito importante agora, nessa retomada”, acrescenta.
Encontro da harmonia
O carnavalesco comanda sua bateria, que dá o repique diante da câmera gravando ao vivo a cena que vai fechar o telejornal da TV, enquanto surgem os blocos carnavalescos: Evoé Baco, Capivara Blasé, Cordão Valu, Calcinha Molhada, Língua Preta e Com Ciência. A animação toma conta do espaço, em frente a antiga estação. Na sequência, incorporam à folia os integrantes das escolas de samba Igrejinha e Deixa Falar, esta tricampeã do carnaval campo-grandense.
A reunião inédita das escolas, rivais dentro e fora da avenida, é o ponto alto do evento que vai ganhando uma dimensão cada vez maior com a presença de centenas de foliões – gente de todas as idades. A organização do festival autoriza o início da parada e a festa contagia a todos, com o show das baterias das três escolas e rainhas e passistas dançando o samba no pé, enquanto o mestre-sala e a porta-bandeira da Vila Carvalho saúdam o público.
“Temos que dar apoio e reconhecer essa manifestação popular mais do que nunca”, comenta o secretário Eduardo Romero no cortejo carnavalesco, que seguiu pela Calógeras até a Avenida Mato Grosso e finalizou o evento dentro da esplanada, ao lado do palco principal dos shows. “É o pontapé para o carnaval de 2023”, comemora Francis Fabian, presidente da Deixa Falar. “Isso é um congraçamento, em harmonia, briga é na avenida”, aponta José Carlos, da Vila.
O Campão Cultural é uma realização do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Cidadania e Cultura de MS (SECIC) e Fundação de Cultura de MS (FCMS), com apoio da Secretaria de Municipal de Cultura e Turismo (SECTUR).
Texto: Sílvio de Andrade
Fotos: Paula Cayres