O que seria da música de MS se não fosse a fronteira com o Paraguai? Essa é uma das perguntas que vêm à mente durante a palestra “A influência paraguaia na música de Mato Grosso do Sul” do jornalista, músico e pesquisador, Rodrigo Teixeira. Ela foi apresentada na quinta-feira (02), dentro da programação da I Feira de Música de Campão, parte do “Campão Cultural – I Festival de Arte, Diversidade e Cidadania”.
Fazendo um retrospecto histórico que se inicia com a chegada dos portugueses e as disputas entre eles e os espanhóis, o jornalista demonstra como a porção de terra limítrofe entre Brasil e Paraguai permitiu o encontro das culturas e a formação de uma música que só se ouvia aqui.
Recheada de informações curiosas, que remontam ao passado breve de Campo Grande e Mato Grosso do Sul, a palestra apresentou como a chegada de ritmos como a polca, a guarânia e o chamamé influenciaram músicos em uma região que ainda era apenas a porção sul do grande Mato Grosso. “Em 2004, eu vim fazer o Festival América do Sul e me deparei com a minha total ignorância sobre a música da América do Sul. Depois eu fui trabalhar como editor no caderno cultural do jornal O Estado e fiz uma entrevista com a Delinha e depois o Dino Rocha. Isso me fez pensar que havia alguma coisa ali, que unia todos esses músicos”, detalha.
A inquietação virou livro: “Os pioneiros: a origem da música sertaneja de Mato Grosso do Sul”, que teve sua segunda edição publicada pela Editora UFMS em 2013. Em seu segundo livro, outro momento da música de MS ganha destaque. “Prata da Casa – Um Marco da Cultura Sul-mato-grossense” mostra um desdobramento contemporâneo de um movimento que se iniciou há décadas.
Enquanto a palestra acontecia, uma questão me surgiu. Como seria para alguém de fora receber as informações levantadas por Rodrigo? Por isso, conversei com o jornalista e também pesquisador musical, Pedro Alexandre Sanches, que vive em São Paulo. “Eu vim para um Festival de Bonito aqui em Mato Grosso do Sul e foi então que comecei a descobri esse universo musical que, até então, eu não imaginava que existia. Acabei me tornando amigo do Rodrigo, li os livros que ele escreveu e isso abriu meus olhos”, afirma. “É um absurdo que isso não seja mais conhecido em outros centros, como São Paulo”, critica.
Mônica Ramalho, que faz a assessoria de imprensa nacional do “Campão Cultural”, argumenta que apesar de ser possível traçar paralelos entre os processos musicais ocorridos em MS a outros como o que levou à criação do choro, no Rio, as informações trazidas pela palestra eram pouco conhecidas por ela. “O Rodrigo trouxe uma porção de nomes que a gente nunca ouviu, mas os ritmos como o chamamé e a guarânia chegaram ao Rio mais recentemente com o trabalho do Yamandú Costa, por exemplo”, comenta.
Como Rodrigo apontou no início da palestra, trata-se de uma versão adaptada de um conteúdo oferecido em uma aula de pós-graduação. Ou seja, um conteúdo de oito horas teve de ser resumido em uma. Desse modo, acabou sendo impossível visitar todos os detalhes e toda a riqueza que a música regional encerra. Mas, com certeza, uma porta se abriu para os participantes do encontro.
Texto: Thiago Andrade
Fotos: André Patroni e Vaca Azul