Qual é o melhor caminho para fortalecer o mercado da música local em Campo Grande e no Mato Grosso do Sul? Foi a partir deste questionamento que músicos e produtores culturais se debruçaram no final da tarde de quarta-feira (01), na Galeria de Vidro da Esplanada Ferroviária. O painel de discussões encerrou as palestras do dia de abertura da 1ª Feira de Música de Campão.
A mesa contou com a presença de Letz Spindola, Rodrigo Teixeira, Caio Dutra, Ana Paula Ostapenko, Aly Ladislau, Anderson Foca e Paulo André. A mediação ficou a cargo de Demetrius Hernandes, um dos idealizadores do projeto. Ele lançou a provocação que deu início ao debate, que não tem resposta fácil: “Por que a cena em Campo Grande está sempre se reconstruindo?”
“Para que a cena exista e cresça é preciso comprometimento da galera envolvida. Eu vejo que é bastante comum as pessoas desistirem de bandas e projetos porque precisam escolher entre isso e o trabalho ou os estudos”, argumentou Letz, que é produtora cultural e artist manager. Ela vive em São Paulo atualmente. No entanto, ela acredita que é possível viver de música, desde que se construa um mercado que envolve bandas, produtores, público, entre outros agentes.
Para Ana Paula Ostapenko, um ponto a ser trabalhado com músicos é a necessidade de se perceber a música como um produto. “Tem muitas bandas que precisam se profissionalizar, tratar sua música como seu ganha pão. Isso significa que a banda não vai tocar por cerveja”, brinca. Ela é uma das responsáveis, junto ao músico Caio Dutra, pela Batalha das Bandas que ocorre desde 2014.
Outro ponto explorado na discussão foi apresentado por Aly Ladislau, que vem empreendendo no setor musical com o selo Mandioca Records. Segundo ele, a falta de compreensão do que significa a carreira artística impede que os artistas da Capital se vendam com propriedade. “No nosso selo, a gente abraça os artistas para desenvolver a carreira com seriedade. Isso significa ter um planejamento estratégico, registrar obras, recolher Ecad e assim por diante”, explica.
Anderson Foca, vindo do Rio Grande do Norte, produtor musical e criador do festival DoSol, disse perceber semelhanças entre a predominância de uma monocultura aqui e em Natal. “Aqui, vocês têm o sertanejo como estilo dominante. Não se trata de lutar para acabar com um estilo popular, mas mostrar que há espaço para todos”, explica. Ele ressalta que a música é um segmento muito grande e governos precisam ver isso para fazer as coisas acontecerem.
Rodrigo Teixeira, músico e jornalista, apontou questões que ele vê como centrais para o desenvolvimento de uma cena. A inexistência de crítica cultural em veículos jornalísticos e a falta de um prêmio anual que destaque bandas e artistas foram citados. “Também acho um desastre não ter um circuito pelo interior. As bandas precisavam tocar pelo menos nas grandes cidades como Dourados, Corumbá e Três Lagoas”, aponta.
O pernambucano Paulo André trouxe outro viés para a discussão, ressaltando a importância da circulação de artistas e a internacionalização da música, por meio da participação de feiras em outros países. “Dá para trabalhar com editais específicos para isso porque é um projeto caro, mas acredito que seja uma forma de dar visibilidade a quem faz música por aqui”, ressalta. Ele lembrou o trabalho de criação de coletâneas musicais, que ajudaram a levar desde a música tradicional pernambucana aos artistas mais contemporâneos para projetos internacionais.
Texto: Thiago Andrade
Fotos: André Patroni e Vaca Azul