É difícil de acreditar que um simples cocô de passarinho possa mudar a vida de alguém. Mas foi justamente isso que aconteceu com os moradores rabugentos de uma pacata cidade, que se encontravam todos os dias na praça, sem muito que falar. De repente, suas vidas monótonas e sem graça são transformadas por um problema que enfrentam diariamente: o cocô que os passarinhos fazem em suas cabeças!
Inspirada na obra homônima da escritora e ilustradora Eva Furnari, a peça com o nome peculiar foi apresentada pela Companhia Noz de Teatro, Dança e Animação (SP), no Festival Campão Cultural, na noite de quinta-feira, e divertiu o público que compareceu na Concha Acústica Helena Meirelles. No final (feliz para os moradores do vilarejo e para o meio ambiente), os atores-personagens interagiram com crianças e adultos, com direito a selfie e muitos aplausos.
“A plateia reagiu com muita alegria, se comunicou, isso é formação de público, de consciência”, disse o ator Rafael Bolacha, 38, que faz o papel do vendedor de flores. “Estamos muito felizes de participar do Campão Cultural. A chuva atrapalhou um pouco, mas foi emocionante a participação e a reação das pessoas, especialmente das crianças.”
Além da imaginação
O espetáculo se resume numa grande contribuição para mexer com o consciente das pessoas que se adaptam à rotina, reclamam da vida e nada fazem para melhorá-la. Tudo muda quando Florêncio, um vendedor de flores, passa, começa a dar vida ao lugar e tudo floresce com as sementes que alimentaram os pássaros, germinando nos chapéus que os moradores passam a usar quando decidem reagir àquela situação.
Enquanto os moradores não tinham intenção de fazer mudanças em suas vidinhas chatas e aborrecidas, a rotina se estendia à passagem dos mesmos animais (ganso, ovelhas, girafa e cão), alguns defecando na praça, fezes recolhidas pelo animado vendedor de flores. Até a chegada de um lambe-lambe era motivo de discórdia. Os moradores reclamavam dos passarinhos, mas o que mais se ouvia era o barulho de descarga e puns.
Por meio da linguagem dos bonecos em tamanho real, que dão vida aos personagens da história, o espectador é levado ao universo encantado da fantasia, em que não há limite para a imaginação. A montagem conta com seis atores que criam novas possibilidades cênicas a cada ato e manipulam objetos, como as casas da vila, transformando o ambiente ainda mais lúdico.
Premiado em animação
Os bonecos que compõem a cena foram criados por meio de um processo de costura em espuma e feições, que se assemelham às pessoas reais. Para dar mobilidade aos atores, o acabamento foi feito até a cintura, para que as pernas fossem as dos próprios artistas. Por isso, o tamanho dos bonecos coincide com a estatura humana. Os passarinhos são pendurados em pontas de bambu, dando a sensação de que estão voando no cenário.
O espetáculo com direção geral de Anie Welter foi premiado pelo APCA em animação/bonecos e com três indicações ao Prêmio FEMSA de Teatro Infantil e Jovem (melhor cenário, melhor adaptação e melhor espetáculo infantil). Criada em 2004, a Cia Noz de Teatro, Dança e Animação é formada por diversos bailarinos, atores e artistas plásticos.
O Festival Campão Cultural é uma realização do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Cidadania e Cultura de MS (SECIC) e Fundação de Cultura de MS (FCMS), com apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (SECTUR).
Texto: Sílvio de Andrade
Fotos: Eduardo Medeiros