Campo Grande (MS) – “Somos resistência dentro do nosso Estado, da nossa cidade”. A drag queen Halley Star, vencedora da sexta edição da Corrida das Drag, definiu bem o que foi a noite deste domingo, no Centro Cultural José Octávio Guizzo, durante o Festival Campão Cultural – 1º Festival de Arte, Diversidade e Cidadania: uma noite de resistência, muita arte, colorido e alegria.
Apesar da forte chuva que caiu durante o evento, o público prestigiou em peso a final da Corrida das Drags, para assistir ao show da drag queen paraense Leona Vingativa, que veio especialmente para o Campão, e para votar em uma das suas três finalistas preferidas: Bruandra Guel, Rachel Black e Miss Angel.
“Para mim é uma honra, uma satisfação imensa estar aqui com todas essas drags maravilhosas. Campo Grande tem um povo muito receptivo, estou amando participar. Ser drag queen é um trabalho como qualquer outro e não é valorizado, ainda existe muito preconceito. A gente vê Pablo Vittar, Glória Groove, que alcançaram a fama, mas tem vários outros artistas escondidos no mundo que não tiveram a chance que a gente teve. Mas se você quer entrar neste mundo, meta a cara. Se você tem fé, você faz acontecer”, disse a convidada da noite, Leona Vingativa, que fez “a track” acontecer, que na linguagem das drags significa que fez um show espetacular.
A grande vencedora da noite, Bruandra Guel, pela segunda vez participa do evento, na última edição ganhou o título de Miss Povão, que seria o equivalente a Miss Simpatia, como no concurso de misses. “A comunidade LGBTQI+ é uma minoria na sociedade, e dentro dela, a cena drag é uma minoria também. Ter um evento destes dentro de um festival como o Campão Cultural é uma evolução muito grande pra gente. A cena drag é considerada uma arte, mas ainda existe muito preconceito. Tem muitas mulheres sis que fazem drag. Para ser uma drag de respeito, você precisa ter autenticidade, ser você mesma e dar respeito a todos”.
Rachel Black foi contemplada com o segundo lugar. Em seus shows, ela agrega sua experiência como bailarino na cena cultural campo-grandense, e pela primeira vez participa de uma competição drag. “Como eu sou da dança, entrei no mundo drag por causa disso. Primeiro eu participei em uma Corrida das Drags como bailarino de uma drag, e hoje estou aqui concorrendo. Eu sou a drag do close, do carão, não trago conteúdo conceitual. O meu é mais balada mesmo, e vamos nos divertir. Na cena drag você pode ser outra pessoa, é como ser um alter ego. A Rachel para mim é a minha salvação da depressão. Incentivo todo mundo a participar, é muito válido”.
Miss Angel, a terceira colocada, fazia teatro no Centro Cultural José Octávio Guizzo com a Beth Terras e acompanhava as drag queens nas redes sociais. O que a atraiu para este mundo foi o exagero, o glamour. “É uma coisa muito diferente do que a gente vê no cotidiano. Depois que eu descobri que era um ato político eu gostei mais ainda. Hoje em dia há uma certa higienização das drags. A indústria cultural, para transformar esta arte em produto, acaba apagando traços da vivência da pessoa que denunciam injustiças no mundo que a gente vive”, diz Miss Angel.
A mais politizada das três concorrentes, ela diz que ser drag é uma responsabilidade com o conteúdo que se está passando. “É uma forma de expressão e a descoberta de uma versão mais autêntica de nós mesmas. É o rompimento dessa lógica binária de sexo gênero, é um “queerstionamento” de outros discursos normativos da sociedade. O artista tem a responsabilidade de exprimir conteúdo crítico que vem do seu particular e atinge questões objetivas da nossa sociedade. Drag é subversão”.
Texto: Karina Lina
Fotos: Eduardo Medeiros e Vaca Azul