Completando 36 anos de uma carreira brilhante que lhe deu o título de rainha da música sertaneja, a cantora e compositora Roberta Miranda, 66, descobriu as múltiplas facetas do mundo digital e divide seu palco entre o celular e o microfone. Já antes do show de terça-feira, na Esplanada Ferroviária, ela surpreendeu durante coletiva de imprensa ao chegar posicionando a câmera para os jornalistas e anunciando: “estou gravando uma live”.
Com pique e desenvoltura de um jovem, a artista nascida na Paraíba presenteou o público campo-grandense com um repertório escolhido especialmente para o Festival Campão Cultural, onde abre o show homenageando Mato Grosso do Sul com a música Chalana (Mário Zan e Arlindo Pinto), que gravou em um dos seus 28 discos. No entanto, mostrou-se deslumbrada com as redes sociais, fez gravações e postagens com o celular e dirigiu a si próprio no palco.
“Quem vê meu Instagram e meu Tik Tok?”, pergunta ao público. “Vocês gostam, né? Eu tive que me adaptar com isso e hoje tenho 800 mil seguidores”, diz, chamando sua empresária para registrar (com o celular) suas performances no tablado. “Eu não queria entra nesse negócio, mas gostei, não fico sem compartilhar com os fãs, peguei gosto”, confessou, na entrevista. “A gente tem que tomar muito cuidado, né, mas é uma ferramenta fantástica.”
Revelação em livro
Simpática e atenciosa na coletiva, Roberta Miranda fez questão de registrar (no celular) o encontro com os jornalistas, mesmo atrasando seu almoço, e fez uma revelação: quando cantava na noite como cronner, se apresentou em uma boate famosa da Capital, Garfo de Ouro, onde diz ter sofrido uma das piores – senão a pior – dores de sua vida, envolvendo uma família influente da cidade. “Não vou dizer o que foi, vai estar no meu livro (de memórias)”, adiantou.
O trauma, no entanto, não abalou a vida e a carreira vitoriosa da cantora, que já vendeu 22 milhões de discos. Ao final do show no Campão, ela interpretou um dos seus maiores hits, “Majestade, o Sabiá” – que a revelou depois do sucesso na voz de Jair Rodrigues – e disse que canta a música como se orasse a Deus e aos fãs por tudo que conquistou como artista, quebrando tabus e se tornando uma referência para uma geração de cantores.
A apresentação de Roberta Miranda foi prejudicada pela garoa que caiu na noite de terça-feira, mas a cantora não perdeu o ímpeto com a plateia reduzida e fez um show de muita energia e divertido com duração de duas horas. Ela cantou 19 músicas – na última hora, excluiu “Duas Taças”, de sua autoria -, interagiu o tempo todo com o público e repetiu refrãos para se enquadrar na luz dos refletores e no posicionamento do seu celular, sempre ligado.
Olhem meu Instagram!
O repertório foi mesclado, entre canções autorais e grandes sucessos de outros compositores, passando por “Cadê Você”, “O Último Pau de Arara”, “Sol da Minha Vida”, “A Flor e o Beija-Flor”, “Asa Branca”, “Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo”, “Eu Só Quero um Xodó”, “São Tantas Coisas”, “Meu Dengo”, Boate Azul”, “Estrada da Vida”, “Telefone Mudo”, Ainda Ontem Chorei de Saudade”, “A Majestade o Sabia”. A antológica “Vá com Deus” fechou o show, já na quarta-feira.
Durante o espetáculo, a cantora brincou com o público dizendo que adora Campo Grande e sonha em morar na cidade, perguntando aos fãs se teria morada. “Vocês me prometem uma comida com feijãozinho, arrozinho e uma carninha assada? Depois escolho uma casa para fazer amor. Aproveitem que estou solteira…”. Ao final, jogou rosas vermelhas para a plateia, mas sem antes pedir: “não esqueçam de olhar meu Instagram, vou ficar muito feliz.”
O Festival Campão Cultural é uma realização do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Cidadania e Cultura de MS (SECIC) e Fundação de Cultura de MS (FCMS), com apoio da Secretaria de Municipal de Cultura e Turismo (SECTUR).
Texto: Sílvio de Andrade/
Fotos: Marithê do Céu