Mais do que um show, o espetáculo liderado pelo Grupo Acaba no Palco Mestre Galvão, realizado no domingo (29), transformou-se em um manifesto ecológico transcendental. Com 55 anos de atividade, a superband apresentou canções que vão do folk ao chamamé, passando pelo xamanismo indígena e o experimentalismo musical que, por vezes, soa como grupos consagrados como o mineiro Uakti. Intitulada “Canções da Grande Guerra”, a apresentação fez parte da programação do Campão Cultural – I Festival de Arte, Diversidade e Cidadania.
No palco, vestidos com ponchos brancos, os integrantes evocaram tradições e histórias ligadas ao Mato Grosso do Sul, ao Paraguai, aos povos indígenas e ao Pantanal para falar de história, natureza, amor, guerra e paz. Na abertura, o poema “Credo Americano”, de Raquel Naveira musicado por Antônio Luis Porfírio, traz versos como “América que padece sofrimentos/Agonias, torturas/ Mas ressuscita na esperança/ E sobe aos céus/ Nas asas da Verdade”, que explicitam o compromisso que o grupo mantém desde sua criação em 1966: cantar as dores dessa porção de terra ao sul do Equador.
“Levantamos a bandeira ecológica, mas também a bandeira da paz e das tradições, assim como da inclusão e das lutas indígenas e dos negros desde o início do grupo, sempre foi algo que nos moveu”, aponta o Moacir Lacerda, percussionista e vocalista da banda. Ele lembra que o nome do grupo traz o epíteto “Canta-Dores do Pantanal”, em uma alusão às agressões que o bioma sofre. “Nesses últimos anos, nossa luta se tornou mais importante do que nunca”, afirmou, referindo-se às queimadas que têm se intensificado ano a ano na região.
Em momentos cheios de simbolismo, o show apresentou elementos como a bandeira da paz, símbolo do Pacto de Röerich, a chama do espírito santo e a chama da paz, que ajudaram a construir o ritual musical promovido pelos nove músicos, divididos entre violonistas, percussionistas, um harpista e um sanfoneiro. Além de canções autorais, foram interpretados clássicos como Campamento Cerro Corá e Mercedita.
Entre os lamentos melancólicos e a energia explosiva da polca e do chamamé, o grupo cativou o público e fez uma apresentação icônica na programação do Campão Cultural. Mesmo os relâmpagos que anunciavam a chuva pareciam compor o ambiente, anunciando que os céus estavam atentos aos apelos do grupo.
Quem assistiu, gostou. “O show foi excelente, uma oportunidade de lembrar de tantos clássicos aqui da nossa região, além de ouvir canções autorais do grupo que eu ainda não conhecia”, conta a farmacêutica Marilene Sá, que acompanhou o show inteiro da grade. Para Ana Gabriela Porfírio, que é neta de Porfírio, todo show é ímpar. “Eu acompanho desde criança, gosto bastante. Mesmo depois de tanto tempo, eles ainda têm algo novo a apresentar”, pontua a fisioterapeuta.
Cancelamento
Em decorrência da forte chuva, que teve início no intervalo entre os shows do Grupo Acaba e de Renato Teixeira, o show do músico paulistano teve de ser cancelado. De acordo com o presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Gustavo de Arruda Castelo, conhecido como Cegonha, não será possível remarcar o show dentro da programação do Campão Cultural – I Festival de Arte, Diversidade e Cidadania. “Por incompatibilidade de agendas, não será possível que o show aconteça no festival. Nós devemos marcar uma data futura em outra ocasião”, explica.
Texto: Thiago Andrade
Fotos: André Patroni e Vaca Azul