Em atividade desde 1998, Falange da Rima ocupa um lugar central na história do hip hop em Mato Grosso do Sul. Homenageados do Campão Cultural – 2º Festival de Arte, Cultura, Diversidade e Cidadania, o quarteto é formado por Flynt, John Geral, Mano Cley e DJ Magão. Na tarde de terça-feira, eles inauguraram o palco Tráfico de Informações, na Praça do Rádio em Campo Grande, com um grande encontro entre amigos, reunindo MCs, DJs e outros grupos de rap que ajudaram a construir a cena no Estado.
“Quando soubemos que seríamos homenageados, ficamos muito emocionados. Mas nós não estamos sozinhos nessa caminhada, existe muito mais gente e nós queríamos homenagear essas pessoas também”, comenta o DJ Magão. Foi assim que surgiu o Sunset Falange da Rima. O show se converteu em uma grande celebração da cultura de rua e do hip hop. “Trouxemos amigos para rimar juntos, pessoas que fizeram parte dessa história. Convidamos todos, até aqueles que nem estavam mais no rap e eles toparam”, ressalta.
A lista de convidados foi grande: Zinho NC, Conspiração, Direito Criminal, Posse Sul Rapper’s, Operação Hip Hop, 1º Plano, Toca Aliadas Periférica, MS 03 e Fase Terminal. O DJ Gio Marx comandou as pick ups enquanto os convidados mandavam rimas compostas nas últimas décadas. Mesmo quem não conhece a fundo a tradição do hip hop em Mato Grosso do Sul poderia reconhecer facilmente que se tratava ali de uma noite histórica para a música no estado.
“Quando a gente começou o Fase Terminal em Dourados, já tinhamos uma conexão com o Falange e ela se estendeu por toda a nossa história”, conta Higor Lobo, um dos fundadores do grupo douradense. No início dos anos 2000, os dois grupos participaram da coletânea musical “MS Expressão de Rua” e essa proximidade foi mantida até 2013, quando o Fase Terminal encerrou as atividades. “Estar aqui essa noite é muito especial, pra honrar os caras e, ao mesmo tempo, oxigenar o movimento de rua”, aponta.
Quem também subiu ao palco foi Branco, do Operação Hip Hop. “Os caras do Falange são meus aliados há mais de 20 anos. Pra mim é uma questão de honra subir nesse palco e participar dessa noite”, conta o rapper. Ele explica que seu parceiro musical não pode comparecer e ele teve de improvisar sozinho no palco. “Eu vivi na periferia extrema, já vi morte, matança, mas o hip hop ajudou a acalmar as coisas e mudou a vida de muita gente. Essa é a importância da cultura de rua pra mim”, reforça.
SHOW
Após a apresentação dos colegas e companheiros de estrada, o Falange da Rima subiu ao palco para apresentar um show potente, que deixou claro porque eles se tornaram o maior nome da música de rua em Mato Grosso do Sul. No setlist, o quarteto montou uma seleção que reforça o talento para rimar sobre as mazelas sociais e as dificuldades que os moradores da periferia enfrentam. Logo de início, mandaram “Capital Sem Favela” dando o tom da apresentação. Durante o show, outros convidados subiram ao palco como o rapper Mano Xis, o DJ Billy e os músicos Lauren Cury e Vinil Moraes.
Além da força sonora, o apoio audiovisual com um telão de led ao fundo contribuiu para dar ainda mais força ao espetáculo. Nas projeções, o público pode acompanhar trechos de clipes e animações, como a apresentada em “Circo de Horrores”, música que encerrou a apresentação e foi mais um dos pontos altos da apresentação, ao receber no palco todos os convidados que se animaram a participar. “O sentimento que fica depois de tudo isso é de gratidão. Nosso movimento hip hop aqui é diferenciado porque a gente aprendeu lá atrás, nos anos 90 ainda, a ter união”, conta Mano Cley, um dos integrantes do Falange.
Para John Geral, outro MC do Falange da Rima, o que aconteceu na noite de terça-feira vai ficar marcado na história de todos os participantes e de todo o hip hop sul-mato-grossense. “Uma pá de gente que está aqui é tudo conhecido, pessoas que já vem conosco há 20, 25 anos. Foi um prazer enorme receber todo mundo aqui”, reforça. John pontua um detalhe importante ao dizer que o grupo é sua vida: “A gente brinca, mas nós passamos a maior parte da vida no grupo, cantando rap. Eu estou no Falange há quase 15 anos”, pontua.
A noite no palco Tráfico de Informações se encerrou como uma grande confraternização. Depois do show, os integrantes do Falange conversaram e tiraram fotos com os amigos e com a plateia, que também tinha muita gente mais nova, que teve a oportunidade de assistir a uma aula de história da cultura de rua em Mato Grosso do Sul.
Thiago Andrade
Fotos: Muriel Xavier