Todo festival é um encontro de expressões culturais diversas, linguagens que muitas vezes não se comunicam no dia a dia da cidade dividem o mesmo espaço. Na noite de sexta-feira (26), na Praça do Rádio, o palco Tráfico de Informações mostrou a força da cultura hip hop com shows, street dance, audiovisual e slam, além da instalação Loop Efêmero com Rafael Mareco. Subiram ao palco artistas como os rappers Miliano, de Dourados, e Toni Jazz e MCN, de Campo Grande.
Peço licença aos leitores para quebrar o paradigma jornalístico da impessoalidade e falar da minha experiência com um universo com o qual tenho pouca proximidade. A começar pelo palco montado na Praça Helena Meirelles, o visual chamava a atenção. Iluminação, projeções e decoração, tudo conversava. Latas grafitadas compõem a decoração e mostram mais um traço de expressão das ruas.
A discotecagem de Shaba trouxe sons conhecidos como Djonga – uma das estrelas do lineup do Campão Cultural – entre outros aos quais este jornalista está menos acostumado. O público foi aquecendo aos poucos e timidamente se aproximou do palco. Quando Toni Jazz subiu ao palco, a força da apresentação já estava clara nos primeiros minutos. Com muito mais impacto do que as músicas que se podem escutar nos streamings digitais, o som rápido e cortante deu o start na noite.
Com diversos convidados, o show virou ponto de encontro entre outros rappers da Capital. Toni, que desde 2015 é uma figura ativa na cultura hip hop de Campão, também empreende com a produtora Universo Lírico. Por meio dela, foram lançados trabalhos de artistas como Hemp, Kogg, Munra, entre outros. “Eu venho construindo minha história e é uma honra subir nesse palco, na Praça do Rádio, um lugar que significa muito pra quem é da rua, do rap”, aponta.
Em seguida, quem subiu ao palco foi MCN acompanhado do filho e do produtor Limanobeat. O trio mandou uma série de sons do álbum O Sonho Não Acabou, passeando por ritmos como funk, trap, drill, boombap. A apresentação seguiu na intensidade esperada e manteve os ânimos no alto, trazendo o público ainda mais para perto.
Para fechar os shows da noite, o rapper Miliano de Dourados levou a banda ao palco para uma apresentação explosiva e cheia de rimas intrincadas. Com mais de uma década de atividade no hip hop, o MC é uma das referências musicais do estilo em Mato Grosso do Sul. Em 2018, ele levou o Duelo de MCs Nacional, se consagrando campeão em Belo Horizonte.
“Rap esteve na minha vida desde sempre, ouvindo com a molecada no bairro. Quando tinha uns 14 anos, comecei a escrever e vi que eu gostava de rimar, que tinha jeito pra MC”, lembra. Em 2009, ele participou da primeira batalha de MCs de Dourados, mas ainda foi necessário mais algum tempo para que ele passasse a se dedicar integralmente à música.
No palco Tráfico de Informações, Miliano apresentou o show “Miliano e os Dasantiga”. Além do MC, o vocal de apoio Matheus Freitas e os músicos João Gabriel Borges, na Bateria, Will Viegas Carbonari, no baixo, e Paulo Vitor Sanches, na guitarra, deram o tom nas letras marcadas por críticas sociais, mas também com uma pegada good vibes bastante forte. “Eu não sou um cara de expectativas, mas estou muito feliz de estar aqui em Campo Grande, participando desse retorno da arte e da cultura, representando o hip hop e reforçando os laços que eu tenho com a turma da cidade”, argumenta.
Break no palco
Além dos shows, outras expressões artísticas também estiveram presentes no palco Tráfico de Informações, dedicado à cultura de rua em Mato Grosso do Sul. A apresentação de dança que reuniu b-boys e a dançarina de hip hop, Monalise Rodrigues, mostrou a criatividade e a força de expressão dos passos ritmados.
“Existe muito estigma entre quem não conhece nossa arte e nossa cultura, mas a dança transforma vidas e histórias. Por isso eu continuo acreditando nela”, explica o b-boy Anderson Santana, que se considera um dançarino da velha guarda. Ele começou a dançar na comunidade de São Vicente, na Baixada Santista, e se mudou para Campo Grande há oito anos.
Texto: Thiago Andrade
Fotos: Marithê do Céu e Thiago Andrade