A primeira noite de shows da Feira da Música de Campão destacou os sons nordestinos como o baião, o forró, o axé e o maracatú. Resumindo, ninguém ficou parado. Dos casais aos solitários, todos entraram na dança com as bandas Vozmecê, de Campo Grande, e Dona Zefinha, que nasceu em Itapipoca, no Ceará. Completou o line-up, as viagens sonoras que passeiam entre o dub, o reggae e o dancehall do Rockers Sound System. Os shows aconteceram no Palco Zé Pretin, montado no Armazém Cultural na Esplanada Ferroviária, e fazem parte do I Festival de Arte, Diversidade e Cidadania – Campão Cultural.
Vozmecê nasceu como duo formado por Ana Maria Schneider (Voz, Percussões) e Pedro Fattori (Voz, Violão), mas no show de quarta-feira (01), receberam apoio de uma banda que deu peso às composições. Uma mistura de rock alternativo, forró, baião e até mesmo polca. Com canções autorais e um palco decorado com flores, a banda fez uma apresentação explosiva, marcada por lirismo e alegria.
“A gente surgiu primeiro como casal. Eu faço faculdade de música, ele tinha uma banda e assim juntamos os interesses. A gente sempre quis ter um projeto musical sério”, aponta Ana. Segundo Pedro, eles vivem da música se apresentando em bares e com os shows para os quais são convidados. “A nossa música autoral é bastante calcada nos sons nordestinos, que tem muito a ver com as nossas referências familiares”, explica. A banda, com muito carisma, conquistou o público e mostrou a que veio, abrindo a festa com muita competência.
Entre os shows, os sons da Jamaica reverberaram pelas paredes do Armazém e pelos corpos de quem foi acompanhar as mixagens do Rockers Sound System. Em sua segunda aparição na programação do festival, o trio formado por Thiago Silva, Diego Manciba e Daniel Geleilate não deixou a animação cair e, inclusive, só parou a pedido da produção para que o próximo show pudesse iniciar.
Show cenomusical
Dona Zefinha é um grupo de teatro que virou banda. Ou vice-versa. Orlângelo Legal, idealizador da trupe, explica que a música e a performance sempre caminharam juntas. “Cada integrante tem suas experiências individuais como multi-instrumentistas e juntos nós montamos esse trabalho que é fruto de um livro-CD chamado “Invocado, um Jeito Brasileiro de Ser Musical”, uma obra de Flávio Paiva”, explica. O próprio autor convidou os músicos-atores para interpretar o repertório de músicas de artistas cearenses.
O show ganhou o título de “Invocado que só” e aos poucos o público do Armazém Cultural foi sendo contagiado pela proposta. Se nas primeiras músicas ainda estava tímido, logo quem podia achou seu par para dançar junto – e quem não podia entrou sozinho na dança. No auge, uma quadrilha se armou em frente ao palco, sem ensaio e de pura alegria. Se dependesse de quem estava assistindo, a banda continua tocando até amanhecer.
Embora Orlângelo já tenha vindo para Campo Grande com o espetáculo ”Automáquina” – que encenou na mostra Pantalhaços – essa foi a primeira vez que todos da Dona Zefinha aportaram por aqui. A troca com a cidade foi tão grande que até um músico daqui, Rodrigo Teixeira, dividiu o palco com a trupe cenomusical. Juntos, tocaram “Hermanos Irmãos” e “Suspeito”, canção composta por Orlângelo e Flávio Paiva.
“Ficamos muito felizes de estar em outro território, viajar pelo Brasil com esse trabalho, construir novos elos artísticos e conhecer outros trabalhos é algo que nos empolga”, explica Paulo Orlando, produtor e integrante de Dona Zefinha. Para ele, a recepção calorosa tanto da organização do festival quanto do público que “estava com brilho nos olhos” encheu os músicos de alegria. Paulo é um dos elementos centrais da interação cênica do grupo, aparecendo como um radialista que faz comentários, brinca com o público e a banda e redobra a dose de humor e descontração no show.
Confira a entrevista com Orlângelo Leal e Paulo Orlando, do Dona Zefinha:
Texto: Thiago Andrade
Fotos: André Patroni e Vaca Azul